quinta-feira, 9 de maio de 2013

Considerações acerca da narrativa em “A Morte da Traça” de Virgínia Woolf (The Death of the Moth)


Wélica Cristina Duarte de Oliveira (UNEMAT)

Virgínia Woolf nasceu em Londres, no ano de 1882. Filha de um filósofo e crítico literário, cresceu com todo conforto advindo das vantagens financeiras e intelectuais de seu ambiente. Desde os 14 anos, Virgínia se habituava com o universo da literatura, mas foi aos trinta e três anos que publicou seu primeiro romance, tornando-se uma destacada escritora da literatura inglesa.
A autora participou ativamente do chamado Bloomsbury Group, que incluía escritores como E.M Forster, Roger Fry e outros artistas e intelectuais, dentre eles, seu futuro marido Leonard Woolf. Participar desse grupo proporcionou à escritora um ambiente muito propício ao desenvolvimento de técnicas, habilidades e sensibilidade que foram marcos em sua obra.
Woolf em vida, sofreu muito durante grande parte de sua vida, devido à problemas de saúde e depressão, e, em março de 1941, suicidou-se.
A obra “A morte da traça” é uma narrativa que tem como forte traço a descrição e enfatiza em grande escala, impressões do narrador, revelando uma sensibilidade afiadíssima da escritora.
O início da narrativa é marcado pela predominância da descrição. Descreve-se observações do cotidiano e as sensações causadas por cada experiência observada e narrada.  Trata-se da descrição a partir do olhar analítico sobre uma traça que voa durante o dia e a espécie é descrita como criaturas híbridas, nem tão alegres como as borboletas, mas nem sombrias como as que voam de noite. Sobre a traça que protagoniza a cena, em particular, o narrador afirma que lhe parece uma traça satisfeita com a vida. Desta maneira, creio que a descrição inicial prepara o leitor para a experiência a ser narrada a seguir, na medida em que anuncia o ambiente, o tempo, espaço, o clima e a atmosfera sentimental, reflexiva, que, perceptivelmente, trás consigo a impressão da autora de pensar e refletir as experiências e a vida como ela estava sendo levada, como era, como é, de acordo com seu curso natural. É descrita a emoção essencial, creio, o sentimento, a dinâmica da narrativa. Tanto que, é narrado o festim dos pássaros, enfatizando a energia da vida que os movia, fazendo daquela reunião uma “experiência tremendamente excitante”. E, para o narrador, essa mesma energia que inspirava os pássaros e outros seres da natureza, havia enviado a traça para aquele local, inspirando-lhe vida e mobilidade. E era impossível não querer observar a traça, seu entusiasmo, seu vigor em voar para um lado e inevitavelmente, voar para o outro, e para o outro.... porém, de forma plenamente satisfeita. Aquela era a realidade da traça. Sua vida. Fazia o que podia ser feito. Fica então claro que, como sugeria o comportamento da traça, era ela “pouco ou nada, mas a vida”, causando a já dita reflexão sobre ser ou não ser. Ser e existir. Conteúdo e forma.
Noutro momento, segundo o narrador, talvez cansada por toda a dança, a traça se aquietou no parapeito da janela. Ali, imóvel, caiu no esquecimento do seu observador. Que, casualmente, num momento volta se lembrar da protagonista e direciona-lhe o olhar. Agora a dança é diferente, estranha. Mas o momento da ascensão de seu belo voo é esperado por seu observador. Entretanto depois de repetidas tentativas, o narrador percebe que a traça não mais alçará voo sozinha, mesmo sem ter consciência do motivo do fracasso da mesma. Embora espere a recuperação, entende agora, que ela está em dificuldades talvez irreversíveis se sozinha tiver que lutar, ela agora parece desanimada, incapaz.
A mariposa agora, de pernas para o ar, causa compaixão no observador, e esse estende um lápis para ajuda-la, virando-a de volta à posição inicial, porém, no meio desse processo, é interrompido por um pensamento. Imagina que esse desânimo, essa incapacidade era a introdução ao fim. Era a aproximação da morte se revelando à protagonista. E assim desiste de virá-la. Isso seria ir contra a natureza, tão forte, poderosa e magistral, que sinalizava a morte.
Sozinha, em seu ambiente agora calmo e ignorado, a protagonista tenta mais uma vez fazer o que está ao seu alcance. Agora os pássaros foram se alimentar, ou seja, foram resolver suas próprias urgências, e mesmo sendo dia, tudo estava parado. Era meio-dia, o trabalho no campo havia cessado. Estava só. Ali, após um momento para retomar suas forças, tenta seu “último protesto”, e seu desespero era tão grande que ela conseguiu se endireitar. Foi essa uma atitude a ser invejada. Mas, como é narrado, não havia ninguém para se importar, ou para saber desse significante esforço e sucesso contra uma força tão magnífica quanto a morte!
O narrador declara que embora quisesse que ela vivesse, sabia dos sinais inconfundíveis da morte iminente. E assim, se assemelha e diferencia ao ambiente humano. Enquanto uns lutam à toda força, isso tudo passa indiferentemente em frente aos olhos inconscientes do outro. Ninguém vê realmente. Ninguém se importa realmente. Ninguém está lá realmente. Embora não seja a escuridão ambígua e assustadora da noite. Embora seja dia, há o momento da indiferença, o momento do “eu”.
Após compreender tudo isso, a serenidade prevalece. Remanesce a harmonia. Harmonia com a morte, com o eu, com o ambiente, com o outro, com a Natureza e seu curso. Conciliação.

2012.

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