sábado, 21 de junho de 2014

RESENHA: O code-switching: Fenômeno inerente ao falante bilíngue (Isabella Mozzillo)

MOZZILLO, Isabella. O code-switching: Fenômeno inerente ao falante bilíngue. In: PAPIA 19. p. 185-200, 2009.
Em O code-switching: Fenômeno inerente ao falante bilíngue, Mozzillo faz um panorama geral sobre o comportamento linguístico de falantes bilíngues, com o foco sobre uma estratégia comunicativa até pouco tempo incompreendida, que é o chamado code-switching (CS).
De acordo com a Mozzilla, apud Myers Scotton (1993), durante muito tempo, esse fenômeno não era considerado digno de estudos ou era matéria de análise científica. No entanto, a partir de 1972, por meio das publicações de Gumpez & Hymes, a temática atraiu mais atenção. O que chamamos de Code-switching, não se trata de outra coisa senão a alternância linguística, a troca de códigos. Antes dos anos 70, o CS era visto como um fenômeno de interferência; como parte do desempenho bilíngue imperfeito, por mais que fosse conhecida a fluência dos falantes em ambas as línguas.
A autora prossegue destacando alguns aspectos da conversação bilíngue, afirmando que em toda interação em que os falantes compartilham um mesmo par de línguas, os envolvidos desfrutam da habilidade de “escolher variantes linguísticas ou fazer opções estilísticas de acordo com a situação social, o interlocutor ou o meio oral ou escrito em um dos idiomas que domina.” (p. 186), e esse fenômeno vem sendo estudado e descrito pelos estudiosos do assunto como natural e inerente à condição de falante de uma (ou mais) língua estrangeira.  Então vemos o CS sendo visto como estratégia desejável e benéfica do ponto de vista pragmático, em conformidade com a situação social, o interlocutor e o meio.
Mozzilla nos apresenta a classificação desse recurso comunicativo feito por Auer (1999). De acordo com ele, o CS é visto como um ato que contrapõe-se ao code-mixing (CM), e a fusão de letos (FL). O segundo nada mais é que a mistura de códigos, ou línguas, enquanto o terceiro diz respeito a uma variedade mesclada estabilizada.  Assim, Auer propõe a seguinte proposição: Code-switching ® code-mixing ® fusão de letos. Compreendendo assim, o code-mixing, ou language mixing, como um fenômeno transitório e intermediário entre CS e FL, onde a justaposição se estabelece como padrão da interação. De acordo com Mozzilla, umas das diferenças do CS é que nele é possível identificar a língua de base, empregada na interação até o momento da ocorrência, então os falantes podem ser proficientes em ambas, ou, ter um conhecimento limitado de uma delas.  Assim, ao entendermos o CS como um dispositivo empregado de forma criativa a favor da liberdade, percebemos que ele está diretamente relacionado às preferências e/ou competências divergentes dos falantes.
Para Myers-Scotton (1993), a escolha sobre que língua falar, é, na maioria das vezes, inconsciente e o falante sabe que escolher um código implica negociar identidades na interação. Quanto ao CS, para Grosjean (1982), o indivíduo bilíngue decide em primeiro lugar qual língua será a base. E em segundo se utilizará o CS, pesando as vantagens e desvantagens de uma ou outra língua. Assim, compreendemos que os falantes bilíngues julgam as vantagens, calculam as consequências de suas opções linguísticas. Vemos então que a motivação para o CS relaciona-se diretamente com a possibilidade de maiores recompensas comunicativas.
Mozzilla prossegue o texto descrevendo as regras e restrições do CS, pautada nas teorias de Hamers & Blanc (1989) e Sankoff & Poplack (1981). Os primeiros afirmam que no CS, as regras gramaticais de nenhuma das línguas devem ser violadas. E os segundos, descrevem dois tipos de restrições atuantes no CS, a do “morfema livre” e a da “equivalência”.
A autora continua e apresenta-nos uma das classificações de CS, que para ela é uma das mais abrangentes. É a de Dabène & Moore (1995). Segundo essa classificação, o Code-switching pode ser: intra-sentencial, intersentencial e entre enunciados.
1.      O intra-sentencial pode ocorrer sob as formas: unitária (apenas um elemento da frase), ou segmental (segmentos de cada língua se alternam). Dentro dessa primeira classe há ocorrências COM adaptação ou SEM adaptação à língua de base.
2.      O intersentencial ocorre no momento em que as línguas se alternam de uma sentença a outra, ou seja, ocorre noutro turno da conversação.
3.      O entre enunciados implica em alternar depois de um longo período da conversação na outra língua, porém no mesmo diálogo.
Cada um desses tipos de CS carregam suas motivações, variando entre persuasão, provocar efeito cômico, mudança de assunto, marcar a identidade com o grupo, entre outros, pode ainda ser motivada pelo ambiente ou pela presença do “outro”, do “diferente”.

Enfim, nesse texto, a autora apresenta de forma didática essa temática tão rica e instigante que é as facetas das interações bilíngues. De acordo com ela, o Code-switching é fato corriqueiro nas relações cotidianas no mundo inteiro e merece uma atenção especial, já que mais da metade da população mundial vive, cada mais intensamente,  num ambiente de línguas em contato. 

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