MOZZILLO, Isabella. O
code-switching: Fenômeno inerente ao falante bilíngue. In: PAPIA 19. p. 185-200, 2009.
Em O code-switching: Fenômeno inerente ao
falante bilíngue, Mozzillo faz um panorama geral sobre o comportamento
linguístico de falantes bilíngues, com o foco sobre uma estratégia comunicativa
até pouco tempo incompreendida, que é o chamado code-switching (CS).
De acordo com
a Mozzilla, apud Myers Scotton
(1993), durante muito tempo, esse fenômeno não era considerado digno de estudos
ou era matéria de análise científica. No entanto, a partir de 1972, por meio
das publicações de Gumpez & Hymes, a temática atraiu mais atenção. O que
chamamos de Code-switching, não se
trata de outra coisa senão a alternância linguística, a troca de códigos. Antes
dos anos 70, o CS era visto como um fenômeno de interferência; como parte do
desempenho bilíngue imperfeito, por mais que fosse conhecida a fluência dos
falantes em ambas as línguas.
A autora
prossegue destacando alguns aspectos da conversação bilíngue, afirmando que em
toda interação em que os falantes compartilham um mesmo par de línguas, os
envolvidos desfrutam da habilidade de “escolher variantes linguísticas ou fazer
opções estilísticas de acordo com a situação social, o interlocutor ou o meio
oral ou escrito em um dos idiomas que domina.” (p. 186), e esse fenômeno vem
sendo estudado e descrito pelos estudiosos do assunto como natural e inerente à
condição de falante de uma (ou mais) língua estrangeira. Então vemos o CS sendo visto como estratégia
desejável e benéfica do ponto de vista pragmático, em conformidade com a
situação social, o interlocutor e o meio.
Mozzilla nos
apresenta a classificação desse recurso comunicativo feito por Auer (1999). De
acordo com ele, o CS é visto como um ato que contrapõe-se ao code-mixing (CM), e a fusão de letos
(FL). O segundo nada mais é que a mistura de códigos, ou línguas, enquanto o
terceiro diz respeito a uma variedade mesclada estabilizada. Assim, Auer propõe a seguinte proposição: Code-switching ® code-mixing ® fusão de
letos. Compreendendo assim, o code-mixing,
ou language mixing, como um fenômeno
transitório e intermediário entre CS e FL, onde a justaposição se estabelece como
padrão da interação. De acordo com Mozzilla, umas das diferenças do CS é que
nele é possível identificar a língua de base, empregada na interação até o
momento da ocorrência, então os falantes podem ser proficientes em ambas, ou,
ter um conhecimento limitado de uma delas. Assim, ao entendermos o CS como um dispositivo
empregado de forma criativa a favor da liberdade, percebemos que ele está
diretamente relacionado às preferências e/ou competências divergentes dos
falantes.
Para Myers-Scotton
(1993), a escolha sobre que língua falar, é, na maioria das vezes, inconsciente
e o falante sabe que escolher um código implica negociar identidades na
interação. Quanto ao CS, para Grosjean (1982), o indivíduo bilíngue decide em
primeiro lugar qual língua será a base.
E em segundo se utilizará o CS, pesando as vantagens e desvantagens de uma ou
outra língua. Assim, compreendemos que os falantes bilíngues julgam as
vantagens, calculam as consequências de suas opções linguísticas. Vemos então
que a motivação para o CS relaciona-se diretamente com a possibilidade de
maiores recompensas comunicativas.
Mozzilla
prossegue o texto descrevendo as regras e restrições do CS, pautada nas teorias
de Hamers & Blanc (1989) e Sankoff & Poplack (1981). Os primeiros
afirmam que no CS, as regras gramaticais de nenhuma das línguas devem ser
violadas. E os segundos, descrevem dois tipos de restrições atuantes no CS, a
do “morfema livre” e a da “equivalência”.
A autora
continua e apresenta-nos uma das classificações de CS, que para ela é uma das
mais abrangentes. É a de Dabène & Moore (1995). Segundo essa classificação,
o Code-switching pode ser:
intra-sentencial, intersentencial e entre enunciados.
1.
O intra-sentencial pode ocorrer sob as formas: unitária (apenas um elemento da frase),
ou segmental (segmentos de cada
língua se alternam). Dentro dessa primeira classe há ocorrências COM adaptação
ou SEM adaptação à língua de base.
2.
O intersentencial
ocorre no momento em que as línguas se alternam de uma sentença a outra, ou
seja, ocorre noutro turno da conversação.
3.
O entre
enunciados implica em alternar depois de um longo período da conversação na
outra língua, porém no mesmo diálogo.
Cada um desses
tipos de CS carregam suas motivações, variando entre persuasão, provocar efeito
cômico, mudança de assunto, marcar a identidade com o grupo, entre outros, pode
ainda ser motivada pelo ambiente ou pela presença do “outro”, do “diferente”.
Enfim, nesse
texto, a autora apresenta de forma didática essa temática tão rica e instigante
que é as facetas das interações bilíngues. De acordo com ela, o Code-switching é fato corriqueiro nas
relações cotidianas no mundo inteiro e merece uma atenção especial, já que mais
da metade da população mundial vive, cada mais intensamente, num ambiente de línguas em contato.
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