Wélica Cristina Duarte de Oliveira (UNEMAT)
Machado de Assis em seu conto A
Missa do Galo publicado em 1899, dá visibilidade a um diálogo entre um
jovem de dezessete anos e uma senhora de trinta. O conto vem de um contexto de
efervescência de teorias científicas e filosóficas, em que Machado e os demais
literatas procuram dar voz aos altos e baixos da vida cotidiana, bem como dos
problemas sociais e individuais do homem. O Realismo vem caracterizar as obras
desse período na medida em que se observam questões como adultério, egoísmo,
vaidade e interesse, além da hipocrisia, o parasitismo social, a dissimulação e
o poder de sedução da mulher nessas obras.
Como é de característica do movimento realista criticar a igreja e as
instituições sociais, no conto em questão temos D. Conceição, uma senhora
casada com o escrivão Meneses (Chiquinho), este que fora marido em “primeira núpcia”
da prima do jovem Nogueira. Nogueira é o jovem que é recebido como hóspede na
casa do casal por alguns dias, e tem seu encontro e tímido diálogo narrado no
conto machadiano.
A narrativa trás em si fortes aspectos do Realismo, como já comentado.
Atentemos, em especial, para a sua minusciosidade, a focalização de muitos
detalhes tanto do ambiente como do comportamento dos personagens. Em sua
temática, aborda pontos críticos da sociedade, agora não mais com o excessivo subjetivismo
romântico que chega a uma emotividade e espontaneidade sentimental, no entanto,
vem com uma descrição real das relações humanas, dos limites pré-concebidos e
das insatisfações e angústias advindas de tais convenções.
O narrador realista joga com as relações de causa e efeito, e com o
Determinismo, visto que Meneses tem sua porção de erros quanto à fidelidade no
matrimônio. E o comportamento do casal protagonista
determina-se pelo meio ambiente em que ocorre, somado aos fatores que justificam logicamente suas
ações, a exemplo disso, D. Conceição, por ser uma “santa”, a boa esposa
negligenciada pelo marido adúltero teria seu comportamento sedutor justificado.
Em “A Missa do Galo” embora o leitor perceba a teia do jogo de sedução e
desejo entre os personagens, nada chega a acontecer de fato entre o casal. A
senhora casada e o jovem, sozinhos na casa numa noite de natal, vivenciam um
momento que segundo Nogueira, nunca poderá ser entendida, mesmo com o passar do
anos. A mulher que não era bonita nem feia, era apenas “simpática”, chega a ser
num momento da narrativa “linda, lindíssima”, porém tudo o que há é desejo, não
há o romântico envolvimento dos sentimentos.
Machado de Assis, desta forma, demonstra certo desprendimento com os
padrões literários da época, aprofundando sua narrativa na veracidade da complexidade
do drama social e psicológico humano.
Agosto de 2012.
REFERÊNCIA:
Texto-fonte: Obra
completa, de Machado de Assis, vol. II,
Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1994.
Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1994.
Publicado originalmente pela Editora Garnier, Rio de
Janeiro, 1899.
4 comentários:
Adoro esse conto.gostei de suas palavras.ajudou em sala.
ótima resenha, ajudou bastante :D
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