segunda-feira, 30 de abril de 2012

RESENHA DA OBRA: Vygotsky – Uma perspectiva histórico-cultural da educação


REGO. Teresa Cristina. Vygotsky: Uma perspectiva histórico-cultural da educação. 15°Ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

Resenhado por Wélica Cristina Duarte de Oliveira, acadêmica do 3° semestre do curso de Letras, 2011/1, da Universidade do Estado de Mato Grosso, campus universitário de Tangará da Serra.
Teresa Cristina Rego é natural de São Paulo - SP, formada em Pedagogia pela PUC de seu estado. Possui Mestrado em Filosofia e História da Educação pela Universidade de Educação de São Paulo; Atuou como professora e também como coordenadora pedagógica em diversas instituições.
           
O livro é organizado em quatro capítulos, onde a autora nos apresenta os principais pontos da teoria de Vygotsky, oferecendo aos leitores uma interpretação sobre alguns aspectos da obra desse grande teórico.
Para melhor compreender a visão de Vygotsky é importante conhecermos o contexto e as razões que o direcionaram a suas questões. Com esse objetivo, a autora comenta, no primeiro capítulo, sobre a breve e intensa vida de Vygotsky.
Lev Semenovich Vygotsky viveu na Rússia pós-revolucionária e isso muito faz relação com seus estudos. Nasceu em 17 de novembro de 1896 em Orsha, na Bielo-Rússia, numa família de origem judaica. Casou-se aos 28 anos, com Roza Smekhova, com quem teve duas filhas. Morreu com apenas 37 anos de idade, no dia 11 de Junho de 1934, vítima de tuberculose, em Moscou. Durante sua vida, se interessou por literatura, arte; aprendeu alemão, hebraico, latim, inglês e francês. Estudou Direito e Literatura na Universidade de Moscou, mesmo sendo uma época difícil para um estudante judeu na Rússia. Participou ainda de cursos de História e Filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii. Transitou por diferentes áreas do conhecimento, como linguística, psicologia, cultura, e até medicina, ficando assim conhecido como um pesquisador eclético, marcado pela interdisciplinaridade.
Estudar os processos de transformação do desenvolvimento humano na sua dimensão filogenética, histórico-social e ontogenética era seu projeto principal. Deu grande importância ao estudo das funções psicológicas superiores: o comportamento, a atenção e lembrança voluntária, o pensamento abstrato, memorização ativa, capacidade de planejamento, raciocínio dedutivo, etc., que para ele, são de origem sócio-cultural e emergem de processos psicológicos elementares, de origem biológica.
A sociedade em que ele vivia estava contagiada pelo ideal revolucionário, assim, Vygotsky liderava a chamada “troika” que contava com Luria (1902-1977) e Leontiev (1904-1979), com o propósito de investigar e estudar o ser humano e seu comportamento, porém não eram limitados a apenas a uma área do conhecimento, pois discutiam sobre pensamento, linguagem, cultura etc. Vygotsky foi bastante influenciado pelos princípios teóricos do materialismo histórico-dialético de Marx e Engels.
Durante o governo de Stalin, as obras de Vygotsky começaram a receber numerosas críticas, sendo consideradas idealistas. Depois de morto, a publicação das suas obras foi proibida na União Soviética, porém, a partir de 1956, começaram a serem redescobertas, e traduzidas. Atualmente suas ideias vêm sendo muito valorizadas no universo ocidental, trazendo imensa contribuição á psicologia e educação.
            No segundo capítulo, Rego apresenta o programa de pesquisa de Vygotsky, que objetivava responder a três questões fundamentais. A primeira questão dizia respeito à relação entre o ser humano e o ambiente físico e social, a segunda, se referia ao trabalho como o meio fundamental de relacionamento entre homem e natureza. E a terceira questão, que tinha a intenção de analisar a natureza das relações entre os instrumentos e o desenvolvimento da linguagem.
A autora enfatiza a relação indivíduo/sociedade, que diz respeito à interação dialética, responsável pela transformação do ser humano. Comenta que o desenvolvimento humano não é dado a priori, pois a cultura é parte constitutiva da natureza humana, assim, as funções psicológicas especificamente humanas têm origem nas relações do indivíduo e seu contexto social e cultural. Explica ainda que segundo Vygotsky o cérebro é o órgão principal da atividade mental, é produto de uma longa evolução, é o substrato material da atividade psíquica que cada um traz consigo ao nascer, porém não significa que seja um sistema fixo e imutável. A autora esclarece que segundo Vygotsky, a relação homem/mundo não é direta, e sim mediada por certas ferramentas da atividade humana, e a linguagem é um signo mediador por excelência, pois carrega consigo os conceitos generalizados pela cultura humana, além de possuir um papel de destaque no processo de pensamentos. Vygotsky também se interessou pelos estudos do comportamento e psiquismo dos animais, com o propósito de identificar as semelhanças e diferenças com o ser humano, e as encontrou, como é relatado nos seus estudos. Em síntese, os animais vivem apenas no mundo das impressões imediatas, diferentemente do homem, que vive também no universo dos conceitos abstratos; e o comportamento e as ações dos animais se baseiam estritamente em motivos biológicos, diferenciando-os do homem. Rego propõe também a reflexão sobre o surgimento da linguagem, a sua função, e as mudanças que ela trás aos processos psíquicos do homem. A autora deixa claro que segundo Vygotsky os fatores biológicos preponderam sobre os sociais apenas no início da vida da criança e as características individuais dependem da interação do ser humano com o meio físico e social, citando o caso das “meninas-lobas”, encontradas na Índia. Quando se trata das relações entre de pensamento e linguagem, Vygotsky afirma que a linguagem tanto expressa o pensamento da criança, quanto organiza esses pensamentos (discurso socializado e discurso interior). Os estudos de Vygotsky continuam afirmando que o aprendizado da linguagem escrita representa um grande salto no desenvolvimento da pessoa. Traz ainda o conceito de zona de desenvolvimento proximal, que compreende a distância entre aquilo que a criança é capaz de fazer sozinha e aquilo que ela realiza com a ajuda dos outros. Vygotsky dava grande importância ao ato de brincar, e acreditava que o brinquedo possuía uma considerável função no desenvolvimento da criança, pois a criança brinca pela necessidade de agir em relação ao mundo dos adultos, e quando ela brinca, ela busca a coerência com os papéis interpretados.
            O capítulo três trata dos pressupostos filosóficos e das implicações educacionais do pensamento Vygotskiano, traçando as diferenças entre as abordagens ambientalista, nativista e a sócio-interacionista de Vygotsky, salientando que na teoria vygotskiana não ocorre uma soma de fatores inatos ou adquiridos, mas sim uma interação dialética entre o ser humano e o meio social em que se insere.
            O quarto capítulo é dedicado à análise da afetividade na obra de Vygotsky e da rápida difusão das teses de Vygotsky no meio acadêmico e nas redes de ensino. Segundo Rego, Vygotsky concebe o homem como um ser que raciocina, pensa, mas que também se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza. E em sua perspectiva, cognição e afeto não estão dissociados no ser humano. A autora finaliza o último capítulo com um texto original de Vygotsky, onde ele afirma que a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário para que se desenvolvam na criança as características humanas que não são naturais, mas sim formadas historicamente.
            A teoria de Vygotsky trouxe para a Psicologia e para a educação de forma geral, uma nova forma de observar o desenvolvimento humano. Suas teses valorizam o papel da escola e do professor, pois oferecem elementos imprescindíveis para a compreensão da integração entre ensino, aprendizagem e desenvolvimento. Tornando claro que as conquistas individuais resultam de um processo compartilhado e o individual depende do social.

2 comentários:

Unknown disse...

AS OBRAS DE VYGOTSKY,SÃO DE GRANDE RELEVÂNCIA PARA O PROCESSO DE DESENVOLVOMENTO DE APRENDIZAGEM DA CRIANÇA,OU SEJA DO SER HUMANO COMO UM TODO,IMPORTANTE,BELÍSSIMA RESENHA,APRENDI MUITO E ACRESCENTOU MUITO EM MEU CURSO DE PEDAGOGIA,EXCELENTE TRABALHO,PARABÉNS/////

Unknown disse...

É INTERESSANTE RESSALTAR,QUE VYGOTSKY VALORIZA MUITO O "BRICAR' O LÚDICO COMO FORMA DA CRIANÇA INTERAGIR COM O MUNDO DOS ADULTOS, MOSTRANDO COM MUITA CLAREZA ESSA MEDIAÇÃO,ESSA VALORIZAÇÃO,ENTRE O SOCIAL E O AFETIVO, NA CONSTRUÇÃO E FORMAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA E COMO SER HUMANO,MUITO IMPORTANTE,ENRIQUECEDOR PARA A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS NO CAMPO DA PEDAGOGIA E PSICOLOGIA////////////