sexta-feira, 20 de abril de 2012

ANÁLISE DA ESTRUTURA MÍTICA: CAPÍTULOS INICIAIS DE GÊNESIS

Com o papel de explicar as origens do mundo, os fenômenos naturais e a própria realidade, ao longo dos séculos, fomos apresentados a uma variedade de narrativas simbólicas, oriundas de diversas culturas, como a cultura grega, romana, nórdica, africana, enfim. Essas narrativas possuem caráter sagrado, religioso, pois estão sempre relacionadas a seres sobrenaturais. São elas denominadas mitos. O termo mito é muitas vezes usado em um sentido pejorativo, dando o sentido de que certas informações não são de fato verdadeiras. Porém, de acordo com o teórico romeno Mircea Eliade (1998)¹, as histórias que compõem os mitos são ancoradas em uma realidade histórica e cultural, utilizando-se da linguagem metafórica, dando ao leitor a liberdade de interpretar e compreender seu significado. A abordagem de Eliade sobre essas narrativas se caracteriza no estudo de suas configurações nas comunidades onde esses mitos ainda estão vivos, trazendo modelos de conduta, valores morais, etc. Não se trata simplesmente de saber verdade ou mentira, real ou falso, mas sim justificar as percepções, compreendendo a civilização humana e o ato de “viver o mito”. O livro de Gênesis é o primeiro livro do Pentateuco (os 5 primeiros livros da Bíblia Sagrada) e conta história da humanidade desde a sua criação até a morte de José. Gênesis foi escrito no final do século XV a.C e sua autoria é atribuída a Moisés. Dito isso, podemos observar a Bíblia Sagrada e afirmar que, sob os olhos da teoria de Eliade, se trata de um arcabouço mitológico. Os primeiros capítulos do livro de Gênesis conta a história da origem dos céus e da terra; o surgimento da luz, pela palavra de Deus, a separação entre o dia e a noite, terra e mares; ainda a criação das plantas, por Deus, sol, lua, estrelas, animais (marinhos, pássaros e terrestres) e por fim o homem, a sua imagem e semelhança, no sexto dia. (Gn 1:1-31). Segundo Eliade, há uma distinção entre “Histórias verdadeiras” (mitos) e “histórias falsas” (fábulas ou contos). As histórias verdadeiras só falam daquilo que aconteceu, só se referem àquilo que se manifestou na realidade visível. Portanto, a narrativa bíblica da criação se constitui num mito, história verdadeira, porque o universo, o sol, a lua, as plantas, os animais e o ser humano são evidências disso. Observando as primeiras narrativas bíblicas, principalmente a história da Criação, percebemos que a definição de tempo e espaço não é de máxima relevância, pois se referem ao tempo e espaço do “princípio”, e o foco é estritamente relatar os fatos. Quanto ao narrador, percebemos que se trata de um narrador observador, pois como sabemos, um narrador não necessita participar da história como um personagem primário, nem precisa ser uma pessoa física do mundo real que testemunhou a história. É simplesmente uma entidade que conta a história, e existe apenas no plano (mundo) da história. No caso de Gênesis, o narrador é heterodiegético. Limita-se a narrar os acontecimentos em 3ª pessoa, não participando das ações. ¹ ELIADE, MIRCEA. Mito e realidade. 5ªed. São Paulo: Perspectiva, 1998. Wélica Cristina Duarte de Oliveira, Letras - UNEMAT. Tangará da Serra, MT

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