terça-feira, 5 de junho de 2012

A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS E O DIÁLOGO - I



Prof. Sebastian
"Ou aprendemos a viver juntos como irmãos ou vamos perecer juntos como tolos."
Martin Luther King.

 Peço licença às famílias, aos pais e mães, filhos e filhas, alunos e alunas, universitários e universitárias, aos professores e as professoras, a sociedade em geral para apresentar uma palavrinha sobre a violência nas escolas. Assunto recorrente nos jornais, nos noticiários de TV, um sem-número de reportagens, artigos e afins, além de muitos livros que tratam do tema.
A palavra violência em si é muito violenta e causa incômodo quando a pronunciamos (pelo menos eu penso assim). Reagimos sem muita satisfação, por vezes rejeitamos falar do assunto, nos causa apreensão, revolta, ansiedade. Nossa indignação chega a patamares altíssimos quando vemos uma cena violenta ou ouvimos alguma história de teor muito violento.
O certo é que de violência ninguém gosta e não quer para si. Todos levantamos a mão para a punição da violência, a punição do agressor e da agressora. Queremos punir aquilo que nos pune. É natural do ser humano. É claro que entre a punição e o punido existem as almas elevadas e praticantes de suas crenças religiosas que praticam o perdão, a desculpa, o “já esqueci”, o “não foi nada”, o “tudo bem” e outros recursos possíveis.
Tratar do assunto violência é algo real e urgente, nos toca a todos e precisa de uma ação coletiva. Isoladamente conseguiremos muito pouco. Não se pode admitir (e isso já faz tempo) uma sociedade organizada que entenda a violência, como algo inerente ao crescimento populacional, próprio de médias e grandes cidades e que realmente os tempos estão difíceis e é assim mesmo.
O marasmo, a indiferença, a inércia, o medo de se envolver enganam nossas consciências e nos neutralizam diante dos fatos. Fatos estes que entram em nossas casas, muitas vezes pela porta da frente, sejam por palavras ou por ações. É urgente participarmos da “massa social” e mexermos junto esse grande bolo, ou vamos esperar sentados nos servirem nossa fatia já pronta?
A violência que existe nas escolas contra alunos, pais e mães e professores é assunto que necessita de uma reflexão da parte de todos. Sejam homens e mulheres, em qualquer situação social. Permitiremos que nosso futuro seja filho da violência atual? Permitiremos que uns poucos falem mais alto que nossas atitudes cidadãs?
Muitos são os fatores que geram violência e seus longos braços chegam a muitos espaços na sociedade. A escola não está superprotegida, é vítima também. Quem de nós não tem uma história para contar? Seja vivida por nós mesmos ou por outra pessoa. A violência tem uma força tal que chega a ambientes que nem sequer imaginaríamos. Tem um poder tal que muda uma vida de uma hora para outra. É contra essa força que precisamos nos preparar para lutar, para enfrentar e mostrar que as armas do bem são mais fortes que as do mal. Será possível que só nos desenhos animados o bem vence? Acredito que não e tenho essa firme convicção.
Da família brotam as alegrias, os sonhos, as expectativas, as esperanças, os profissionais, os projetos, as vocações, os sucessos, os amores, as paixões, as virtudes... Porém é também daí que surgem as pessoas violentas. Ou as pessoas violentas são seres extraterrestres que aparecem subitamente para nos perturbar e confundir nossas boas intenções? Claro que não! Ironias a parte, a falta de educação que existe no ambiente doméstico contribui (e muito) para meninos e meninas, homens e mulheres serem agentes agressivos, seja verbal ou fisicamente.
Na família repousa uma importante chave para a conduta dos homens e mulheres que vivem em sociedade. O trato no dia a dia, as conversas informais, a compreensão de mundo, o diálogo frequente, o respeito mútuo, os ensinamentos e aprendizagens, os valores morais e éticos, e tantos outros elementos de boa convivência colaboram para encontrarmos no cotidiano pessoas mais amáveis, mais ponderadas, mais acessíveis e, por conseguinte menos violentas.
Muito além de uma educação degradada e com mil problemas a serem ainda resolvidos, precisamos extrair o que há de bom na educação. Na escola ainda aprendemos a ler e escrever, a conviver, a brincar, a nos organizar, a fazer novas amizades, a conhecer muitas coisas que nem sempre estão no fabuloso mundo da internet.
A escola nos possibilita entre outras coisas, um “universo” de cidadania e espera receber da sociedade em geral além da críticas, acolhimento e apoio, aplausos e reconhecimento. Uma educação de qualidade ainda é possível neste mundo de violências variadas.

Sebastian Ramos - É professor da Rede Pública, formado em História, especialista em gestão escolar e ativista de causas sociais.

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