segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Povo Paresí


Os Paresí
“Eu tenho uma história sobre o povo Paresi, seu surgimento na Chapada dos Parecis.
Muitos anos atrás, eu acho que na formação da Terra e do Céu, a história conta que os mais velhos dizem que os Paresi moravam numa rocha fechada, sem janela, sem nada, mas dentro da rocha a multidão dos Paresi viviam muito alegres, sempre faziam festa. Só Deus que existia naquela época, aqui na terra não existia nada de pessoas humana.
Mas um dia Deus ouviu aquele barulho lá embaixo da rocha, então Deus deu uma rajada e abriu um buraco e viu que havia gente desmaiada, assim deitada, quase morta, lá embaixo. Deus pensou que eram pessoas inocentes que poderiam ter saído da rocha para habitar na terra. Depois, no dia seguinte, alguém viu o buraco aberto lá em cima e saiu, vendo o mundo lindo e as flores perfumadas; e tinha cada flor, cores diferentes e muitas outras coisas bonitas que existiam na terra. Retornando para embaixo da rocha, contou para as outras pessoas:
Eu vi uma coisa linda na minha vida. Vi o mundo lindo cheio de flores perfumadas. Gostei muito. Os amigos dele não concordavam e não acreditavam. Mas ele mostrou a flor que levou da terra e os amigos deliraram com tanta beleza e perfume. E acreditaram no que ele viu e começaram a abrir mais buracos para poderem sair dali. Então fizeram mais buracos, abriram, abriram... E assim os Paresi saíram da rocha para fora. Gostaram muito das coisas do mundo exterior e começaram a viver, fazer filhos, filhas, e assim os Paresi se multiplicaram na terra, vivendo até hoje no mesmo lugar.
Alguém já foi naquele local onde os Paresi saíram, e disse que ainda tem o sinal na rocha.
Achei linda esta história, pois Deus estava com eles, abrindo um buraco para os Paresi saírem. A partir daí que os Paresi entenderam que existe um Deus verdadeiro. E essa foi a história dos Paresi.”

(Alinor Alves Zezonai, 47 anos, Professor Aldeia Felicidade)


Bom, essa é uma das versões do mito da origem do povo Paresí. Foi escrita a partir de uma perspectiva protestante, pois é a opção religiosa do informante.
A história mostra quem são os Paresí, cita as coisas que eles apreciam na vida, além da própria vida, como o lugar onde eles vivem, as flores, as coisas da terra, os animais, etc.
A língua Paresí é pertencente a família Aruák.
Os Paresí são agricultores. Antes do contato, eles recolhiam frutos e raízes e cultivavam a terra de forma artesanal, mas hoje foi introduzida a lavoura mecanizada.
Atualmente eles são conhecidos pela suas habilidades em artesanatos, como espanadores de pena de ema, e várias outras artes. Os Paresí se autodenominam Haliti (que significa ‘Gente’).
Os Paresí que vivem na Área Índígena hoje em dia, são decendentes de inter-casamentos entre índios pertencentes á sub-grupos diferentes, como Kaxiniti, Waimaré, Kawáli, Warére e os Kozarini. Dentro do território dos Paresí, há o território de cada sub-grupo. É devido a isso que as aldeias se formam em lugares que já haviam outras.
A aldeias Paresí são autônomas econômica e politicamente.
Antigamente, os líderes eram apenas os fundadores da aldeia, e os Xamãs, mas como toda comunidade democrata, há grupos que elegem seus líderes.
Os relatos etnográficos sobre os Paresí não reconhece a existência de um só chefe geral entre eles, embora reconheçam a sabedoria e autoridade de alguns ilustres Paresí entre eles (Ramos Costa, 1985:160-168).
Hoje, mesmo os que recebem salário, mantém suas roças, mesmo que eles também consumam produtos comprados de outros grupos, ou dos grupos locais.
Os Paresí foram fundamentais no processo de exploração e de povoamento da região de minas de Diamantino, onde trabalharam na extração do ouro e diamante e na navegação. Suas aldeias também serviram para abastecer de alimentos e mão-de-obra as minas das regiões das cabeceiras do Galera e Sararé, na região de Vila Bela da Santíssima Trindade (primeira capital de Mato Grosso).
No século XIX, os Paresí tentaram novas formas de relações com a sociedade regional, pelo comércio. Eles levavam fumo e produtos artesanais que eram muito apreciados.
Embora os Paresí estejam totalmente relacionados com a história da ocupação da região desde o século XVIII, eles não são lembrados como deveriam ser, são excluídos dos livros históricos e pouca gente sabe da importância que tiveram na ocupação dos territórios.

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